Será que, num futuro próximo, nós, indivíduos, passaremos a aprender, desde lá de trás enquanto criancinhas inocentes, que relacionamentos são espelhos que a vida nos oportuniza para nos autoconhecermos e tornarmos humanos melhores a cada instante?
Será que o ensinamento de Jesus – “o Reino dos Ceús é das criancinhas” (Mt 19:14) -, em algum momento, virá à luz pelo coração do homem (ou da mulher, o que me parece mais provável por sua natureza mais sensível e pacificadora), constituindo uma das verdades que o libertará de sua prisão cognitiva atual, causa maior de o enterrar em relacionamentos diários, psicológico e emocionalmente conflituosos, problemáticos, dolorosos?
Lançando suas sementes para autorreflexão, o mestre Jiddu Krishnamurti nos deixou registrada a seguinte mensagem (do dia 31 de janeiro), no Livro da Vida:
“O autoconhecimento não segue nenhuma fórmula. Você pode ir a um psicólogo ou a um psicanalista para descobrir coisas sobre si mesmo, mas isso não é autoconhecimento. O autoconhecimento surge quando estamos conscientes de nós mesmos no relacionamento, que mostra o que somos de momento a momento. O relacionamento é um espelho em que nos enxergamos como realmente somos. Mas a maioria de nós é incapaz de enxergar a si mesmo como realmente é no relacionamento, porque imediatamente começa a condenar ou justificar o que vê. Nós julgamos, avaliamos, comparamos, negamos ou aceitamos, mas nunca observamos realmente o que existe; e para a maioria das pessoas essa parece ser a coisa mais difícil de fazer. Mas esse é só o início do autoconhecimento. Se alguém for capaz de se enxergar como é nesse extraordinário espelho do relacionamento que não distorce, se conseguir simplesmente enxergar com toda a atenção e ver realmente o que existe, estar consciente disso sem condenação, sem julgamento, sem avaliação – e fizer isso quando há um ardente interesse –, então vai descobrir que a mente é capaz de se libertar de todo condicionamento, e só então a mente estará livre para descobrir o que está além do campo do pensamento. Afinal, por mais instruída e mais bonita que possa ser a mente, ela é consciente ou inconscientemente limitada, condicionada, e qualquer extensão desse condicionamento ainda está dentro do campo do pensamento. A liberdade é algo inteiramente diferente.”
Parafraseando uma possível explicação do texto pelo próprio grande filósofo tal como lhe era natural, vamos olhar para isso juntos, não como professor e aluno, mas como dois exploradores tentando entender algo muito importante.
Imagine que a vida é como um jogo em tempo real, e não um livro que você estuda para uma prova. O texto que lemos diz uma coisa simples, mas profunda: as outras pessoas são o espelho onde você vê seu verdadeiro rosto. Aqui está como isso funciona no seu dia a dia.
O outro é o espelho
Você acha que se conhece? Talvez você diga “eu sou calmo” ou “eu sou legal”. Mas isso é só uma ideia na sua cabeça.
O “espelho” funciona assim:
Quando seu pai ou mãe manda você arrumar o quarto e você sente aquela raiva instantânea subir… essa raiva é você.
Quando um amigo ignora sua mensagem e você sente ciúme ou insegurança… esse ciúme é você.
O relacionamento com eles (pais, amigos) mostrou quem você realmente é naquele segundo, não quem você gostaria de ser.
O filtro do julgamento (o problema)
O texto diz que a gente estraga tudo porque não apenas “olha”. A gente julga.
Digamos que você ficou com inveja do tênis novo do seu colega.
O que sua mente faz imediatamente: “Eu não devia sentir inveja, isso é feio” (condenação) ou “Ah, mas ele é metido mesmo, ele não merece” (justificativa).
O resultado: você coloca uma “máscara” ou um filtro de Instagram sobre a realidade. Você não está mais vendo a verdade, está vendo suas desculpas.
O segredo: olhar sem legenda
Para ser verdadeiramente livre e inteligente, o texto sugere um desafio difícil: olhar para o que você sente sem dar “like” e sem dar “dislike”.
Se você sente raiva, apenas observe: “Estou com raiva. Meu coração bateu rápido. Minha mão fechou.”
Não diga “Eu sou ruim por ter raiva” nem “A culpa é dele”. Apenas observe a raiva como se estivesse observando uma nuvem passando no céu.
Por que fazer isso? Quando você para de brigar com o que você sente e apenas observa com atenção total (como quando você está focado na fase final de um jogo e nada mais existe), a sua mente sai do piloto automático.
Você deixa de reagir como um robô, um androide programado (que sempre grita quando é contrariado), e descobre uma liberdade nova. Você deixa de ser um repetidor de velhos hábitos e passa a ser verdadeiramente livre.
Vale refletirmos sobre isso; nada perderemos, pois o nada nós já temos.





