Pensar sinaliza inteligência?

Deveria, mas está mais para automatismo.

Renato R Gomes Administrador

O grande mestre ainda não foi compreendido pela grande maioria das pessoas. Esta é uma constatação pessoal. O caos externo, social, ambiental, geopolítico… do momento, que influencia e condiciona o caos interno, individual, mental, psicológico, emocional…, permanece assolando a humanidade após um quarto de século transcorrido, falando por si.
“Aceitar Jesus” é fácil; difícil é compreendê-lo e vivenciar seus ensinamentos eternizados, voltados à libertação (de nosso mundo subjetivo de ilusão mental).

Vejamos essa mensagem trazida no dito 15 do Evangelho Gnóstico de Tomé: Jesus disse: “Quando virem alguém que não nasceu de mulher, prostrem-se e adorem-no. Ele é o Pai de vocês.”

O que Jesus quis dizer com essa fala misteriosa ou velada? O que pode significar a expressão “nascido de mulher”? De antemão, descarto o sentido literal. Numa visão mais abstrata e holística, faz sentido entendê-la como tudo o que se refere ao mundo da forma, da biologia e, sobretudo, do condicionamento ou da influência externa.

Possivelmente, para o mestre Krishnamurti, o ser humano “nascido de mulher” significasse o ser humano “nascido do passado”, moldado por sua programação inata e – pior – por aquela construída pelos relacionamentos ao longo da vida, a começar dentro de casa. Alguma dúvida de que a criancinha absorve tudo o que papai, mamãe, vovô, vovó… dizem (pode vs não pode; bom vs ruim; justo vs injusto; cristão vs ateu; perigoso…)? Soma-se a essa programação o que é assimilado nas escolas, faculdades e no âmbito sóciocultural em geral.

Como constatava Krishnamurti, nós somos feitos de memórias, de tradições, de medos herdados, de nacionalismos, de crenças. Somos o resultado do tempo. O “eu”, o ego, é essa estrutura acumulada, que, para nós, infelizmente, se confunde com quem somos. Não por acaso, tudo que nos causa repulsa, ira ou emoção negativa qualquer é culpa dos outros ou das circunstâncias. Tudo vira pessoal, motivo para reação e para racionalizarmos o comportamento automático e vicioso. Nossa vida se torna extremamente previsível: não passa de repetição de padrões de conduta.

​Quando Jesus diz para buscar “aquele que não nasceu de mulher”, ele não está falando de uma entidade mágica flutuando no céu. Ele está apontando para aquilo que não é produto do pensamento; aquilo que ultrapassa as paredes da mente condicionada; que vai além de nosso conhecimento acumulado e ao qual estamos aferrados.

​O “não nascido de mulher” seria a inteligência que não foi fabricada pela mente humana delimitada, egocêntrica. É a inteligência que surge no silêncio entre dois pensamentos. É a percepção pura, o próprio silêncio, sem a interferência do observador (o “eu” que julga).

Na linha de Krishnamurti, “prostrar-se” e “adorar” não teria a ver com adesão a rituais ou submissão por temor reverencial, aos quais era acesso. Penso que “prostrar-se” e “adorar” implica “entrega”, “desapego”, “fé no desconhecido”. Prostrar-se aqui seria o ato de o “eu” (o ego barulhento) silenciar completamente diante da imensidão do desconhecido (a Vida como ela é). Quando o “eu” se cala — sem resistir, sem julgar, sem querer mudar o fato — ocorre essa “adoração”. Não é uma submissão servil; é uma comunhão total. “Prostrar-se” é não brigar com os fatos. Quando você para de brigar com “o que é”, a energia que você desperdiçava no conflito se torna a própria inteligência (o Pai).

​Jesus veio falar para todos, inclusive, aos jovens. Daí, vale tentar simplificar a ideia central.

Explicando a um jovem adolescente: o robô e a eletricidade
​Se um jovem de 16 anos, cheio de vida e dúvidas, perguntasse sobre isso, como explicar a ele? Metáforas podem ajudar.
​”Imagine que você comprou um robô ultra-avançado. Ele fala, anda, faz contas e até conta piadas. Ele foi montado numa fábrica (“nasceu de mulher”; foi criado). Tudo o que ele diz vem da programação que colocaram nele.
Mas o que faz o robô funcionar? É a eletricidade, a energia pura que corre nos fios. Essa energia não foi ‘montada’. Ela não tem marca, não tem opinião, não tem dono.
​Jesus estava dizendo algo parecido com isso.
Quem ‘nasceu de mulher’, é a nossa ‘programação’. É o nosso nome, o que aprendemos na escola, o que nossos pais disseram que é certo ou errado, as curtidas no Instagram, a nossa vontade de ser popular. Isso é o ‘robô’. A maioria de nós passa a vida adorando o robô, achando que somos apenas essa programação.
​Quem ‘não nasceu de mulher’, é a Vida que está dentro e fora de você, antes da programação. É aquela sensação pura de existir quando você olha um pôr-do-sol e, por um segundo, esquece seu nome e seus problemas. É a Inteligência da natureza.
​’Prostrar-se’ não significa ficar de joelhos na igreja. Significa ter a humildade de perceber que a sua programação (seus julgamentos, suas teimosias, seus preconceitos) é pequena perto dessa Vida maior.
​Então, ‘não resistir ao mal’ ou ‘adorar o Pai’ é simplesmente isto: desligue o modo automático do robô. Pare de julgar tudo como ‘chato’ ou ‘legal’. Quando você para de rotular as coisas, você percebe uma inteligência muito maior guiando tudo. Respeite a realidade mais do que você respeita as suas opiniões sobre ela.”

​Essa explicação faz sentido para você? Ela conecta a ideia de “julgamento” (o software do ego) com a “adoração” (a conexão direta com a fonte), mantendo a simplicidade que você busca.