Em artigo publicado no Estadão (31/03/2019), a jornalista Vera Magalhães disse o seguinte:
“Quando um presidente democraticamente eleito insiste até hoje em questionar o sistema de urnas eletrônicas, investe contra a imprensa propagando fake news nas redes sociais e propõe a comemoração, no dia de hoje, de um golpe militar que instituiu uma ditadura, querendo rever e debochar da História (sic), a imprensa tem se imbuído de seu papel de expor, checar, propor o contraditório e criticar essas práticas.”
Quando li esse trecho, meu pensamento foi instantâneo: “Quantos leitores intelectualmente honestos e com um mínimo de conhecimento sobre os dados históricos e a realidade atual do Brasil foram persuadidos e passaram a ter como verdade essas três afirmativas da Vera?” A resposta também me veio num átimo de segundo: “Nenhum”.
Por que tenho tanta certeza disso? Simples: porque se você não é alienado e nem desonesto intelectualmente, a mensagem da jornalista foi reprovada in totum pelo seu filtro cognitivo-racional. Fácil demonstrar.
Desconfiança das urnas eletrônicas. Em dados aproximados, Haddad venceu Bolsonaro no Nordeste por 69% a 31% dos votos válidos. No Norte, praticamente empataram: Bolsonaro, 51%; Haddad, 49%. No Centro-oeste, Sudeste e Sul, Bolsonaro levou também, por arredondados 70% a 30%.
Mas, incrivelmente, a matemática se mostrou “inexata”: no cômputo total dos votos, Bolsonaro ficou com 55%; Haddad, com 45%. Ou seja, se levarmos em conta que a população em conjunto do Centro-Oeste, Sudeste e Sul representa bem mais eleitores do que os eleitores do Nordeste isolado, é matematicamente impossível, pela média ponderada, a votação de Bolsonaro ter caído de 69% para 57%, e a do Haddad, crescido de 31% para 43%. Exceto, presumidamente, por fraudes nos votos computados como brancos e nulos, nos do Nordeste, ou de ambos. Não há outra possibilidade, em se tratando da exatidão matemática. É pura lógica formal, que independe de juízos de valor. Primeira conclusão: existe, sim, razão para descrer na confiabilidade das urnas eletrônicas. Tese da confiabilidade cai por terra.
Bolsonaro investe em fake news nas redes sociais. Esta acusação é mero oportunismo valorativo. Provavelmente, generalizado em função do episódio em que o jornalista francês, após entrevistar jornalista do Estadão antibolsonaro, concluir que ela age para desestabilizar o Governo com fake news ou manipulando notícias para denegrir a imagem do Presidente, corroendo o novo Governo.
O Estadão negou com veemência, baseando-se numa mera tradução literal da fala da jornalista entrevistada, desprezando o contexto devido, como era de se esperar. A grande imprensa, em geral, idem: saiu em defesa da jornalista. E Bolsonaro, que “twittara” a opinião do francês, saiu como um mentiroso ou propagador de fake news, aos olhos de seus detratores e antipatizantes ideólogos de sempre, incapazes de enxergarem um palmo à frente do próprio nariz.
Mas os fatos falam por si: se pegarmos o histórico das reportagens do Estadão, da Folha, do Globo, da Veja etc, e analisarmos a redação das manchetes, bem como o teor dos artigos e comentários de seus jornalistas e “especialistas” ao longo dos últimos 12 meses, pergunto a você, leitor, leitora, naturalmente, pressupondo a sua honestidade intelectual: para quem você daria razão? Resposta, para mim, que torce para que o Brasil supere o status quo cleptocrático e destrutivo, é intuitiva; dispensa justificativas ou racionalizações, feitas sempre retoricamente e em nome da “democracia” de fachada, tida superficialmente por “democracia madura”.
O Presidente quer rever ou debochar da História (sic), por autorizar a comemoração dos 55 anos do “golpe militar”. De duas, uma: ou a jornalista é uma típica comunista, que, como praxe, faz questão de distorcer a realidade ou omitir fatos, para conseguir sustentar sua tese do “golpe” via vitimizações racionalizadas; ou é uma completa ignorante que, por desconhecimento e inconsciência, só faz é repetir a narrativa enviezada e de conveniência, construída a la Goebbels, pelos esquerdistas tendenciosos e com valores invertidos, que dominam as mídias e as universidades há décadas.
Sem falar, ainda, que ela deixou claro não ter a menor ideia do que signifique liberdade de pensamento, de expressão e pluralismo, que, além de integrarem o núcleo de uma Democracia verdadeira, juntos, legitimam a interpretação presidencial dos fatos da história, a manifestação do seu entendimento e a orientação dada aos seus comandantes militares subordinados, e, sobretudo, forçosamente relembram e impõem o dever constitucional de tolerância aos insatisfeitos ou incomodados “esquecidos”, para com a sua opinião autêntica e verossímil.
O grande problema da imprensa hoje no Brasil é se achar intocável, imune a críticas, acima do bem e do mal; considerar-se instituição fundamental à Democracia, independentemente do conteúdo que transmita ser por infinitas vezes e intencionalmente manipulado, desinformativo ou descontextualizado.
Analogamente, o mesmo vício da inaceitabilidade das críticas atinge o Judiciário, Ministério Público e demais instituições essenciais à justiça. Todos, indistintamente, com boa ou má-fé, acham-se no “direito” ou se arrogam a “competência” de pautar a vida em sociedade com base nas “interpretações” que fazem da principiologia constitucional, fácil e reiteradamente manipulada segundo as prefeŕências valorativas de cada “intérprete”. Na cara dura, simplesmente selecionam o respectivo contexto a dedo, e recusam-se a rebater objeções que demonstrem a incoerência de seus posicionamentos teóricos decisivos. Azar dos cidadãos lesados por suas ações e decisões institucionalizadas, não obstante serem muitas das vezes arbitrárias ou imprevisivelmente lotéricas.
Numa Democracia, nenhuma instituição está imune a críticas; nenhum agente público, jornalista, advogado ou quaisquer profissionais são civil e penalmente irresponsáveis, salvo previsões constitucionais neste sentido, e sob condições predefinidas. Estamos longe de sermos Democracia. Compreensível, portanto, a choradeira dos que resistem às mudanças inevitáveis que visam a quebrar a inércia da inescrupulosidade institucional reinante e avançar sobre nosso país, queiram ou não os insignificantes seres humanos que as obstruem, motivados por seus egos e vontades. A conferir.