“Se o governo não ajudar, fica difícil aprovar qualquer reforma.”
Headline do artigo de João Domingos (Estadão, 30/03/2019, 03h00). Alguns questionamentos.
1) “Ajudar” em que sentido? 2) Quem está precisando de “ajuda“? 3) Seria “ajuda” para tirar dúvidas sobre o texto da proposta de reforma da previdência? 4) Ou “ajuda“, traduzida na cessão de espaços na administração federal para indicados de deputados assumirem cargos no Governo? 5) “Ganhar cargos” é motivo para o deputado se autoconvencer da necessidade de se reformar a previdência? 6) Neste caso, o que tem a ver “entrega de cargos” com “voto favorável à reforma da previdência“? 7) Como funcionaria esse “poder de disponibilizar cargos” na mudança de postura dos deputados, antes resistentes à refoma, agora, “magicamente” defensores ardorosos de sua chancela, se “participação” na administração de pupilos ou apadrinhados nenhuma relação possui em conteúdo com a reforma constitucional? 8) Será que o deputado sabe que a reforma tem por objetivo equilibrar o orçamento público e, daí, assegurar os salários, aposentadorias e pensões de gerações futuras? Ou estão indiferentes a isso? 9) Seria “ajuda” do Presidente da República ao Presidente da Câmara, para explicar aos parlamentares sobre a reforma? 10) Por que apenas a “ajuda” do ministro da economia e de seus assessores especialistas no tema não serve ou é insuficiente? 11) Seria insuficiente, porque são subordinados ao Presidente, e só este tem o “poder da caneta”? 12) Se for por isso, qual a relação de pertinência entre o “poder da caneta” presidencial e o “voto a favor da reforma“? 13) Será que o interesse na aprovação da reforma da previdência é exclusivo do Governo, inexistindo interesse social algum que justifique o autoconvecimento do deputado para apoiá-la? 14) Será que os parlamentares são alienados ou inocentes e nada conhecem a respeito? 15) A “ajuda” do Governo significa “negociar“? 16) Se sim, quais os objetos da “negociação”? 17) Estão relacionados ao conteúdo do texto, ou ao “poder da caneta“, em nada vinculado diretamente às razões da reforma? 18) Os deputados, hoje manifestamente contrários à reforma previdenciária por motivos personalíssimos diversos, de fato, estão abertos a apoiá-la, mudando de opinião apenas com base em novos argumentos que porventura desconheçam e, por consequência, tenham inconscientemente desconsiderado? 19) Se sim, que diferença faz a presença direta do Bolsonaro? 20) O que especificamente o Presidente da República fez, deixando a entender que ele não vai “ajudar” na aprovação da reforma da previdência? 21) Quais atos ou condutas ele praticou, que impedem o autoconvencimento de deputados? 22) O Presidente já disse alguma coisa, depreciando o conteúdo da proposta entregue à Câmara dos Deputados, para desestimular os deputados a votarem a favor da reforma?
Muitas outras “dúvidas” poderiam ser levantadas em torno da conclusão do articulista sobre a tão criticada “falta de sensibilidade” ou “inabilidade” do Bolsonaro, por supostamente não estar se “esforçando” para oferecer a tal da “ajuda” ao Rodrigo Maia, de modo a “convencer” os deputados a aprovarem a notória e indispensável reforma da previdência para o crescimento sócio-econômico do país.
Mas quaisquer outras objeções seriam desnecessárias. Aliás, até as 22 que fiz o são. Porque, além de ser impossível alguém convencer quem não queira ser convencido, o significado da expressão “ajuda“, reiteradamente cobrada por “especialistas”, e replicada tendenciosa, acrítica ou cegamante na – e pela – imprensa, jamais será esclarecido com a devida honestidade intelectual e de propósito real de fundo.
O máximo que fazem é associar “ajuda” às expressões “negociação” ou “articulação” políticas, de teor incerto, fluido e indeterminado, colocando-as como da “essência” do jogo “democrático”. Ou seja, não passa de um jogo de palavras vazias de conteúdo ou de pura retórica voltada intencionalmente a imputar exclusivamente ao Presidente da República as responsabilidades política, social e econômica decorrentes de futura, inoportuna e irresponsável rejeição eventual da reforma pelo Congresso Nacional. Na prática, toda a argumentação é construída, como se este Congresso não fosse o único Poder competente para alterar a Constituição, ou não fosse composto por parlamentares que representam a população (CF,1,parágrafo único). Ou, ainda, como se tivesse a prerrogativa de defender interesses políticos próprios e egoísticos de seus membros, mesmo que dissociados das necessidades do povo que os elegeu. Infelizmente, isto é só teoria.
É a velha política atuando como um câncer em metástase, em conluio com seu auxiliares, “especialistas” diversos em economia, jornalismo, direito, política etc, conscientes ou não. Quimioterapia não o cura. Mantenhamos a fé, portanto, nas Leis Universais, em Deus, na espiritualidade, no Cosmo ou no surgimento de algo institucional “milagroso” ou imprevisível pelas consciências contraídas dos integrantes majoritários desse sistema político apodrecido, e tradicional empecilho à formação de um grande Brasil, verdadeiramente democrático, ético e desenvolvido.