A nova política, tão pregada pelo Presidente, não é bem compreendida pelos adeptos da velha política.
Ou é interpretada de forma muito reduzida, como mero sinônimo do encerramento do fisiologismo do toma-lá-dá-cá. Na verdade, entendermos a nova política com esse sentido tão estreito, permanecendo todas as formas de negociação, articulação ou responsabilização políticas como as enraizadas até hoje, implicará em inevitável fracasso do Governo Bolsonaro. Por que digo isso? Uma razão básica. O Governo, até agora, se comunica muito mal.
Por exemplo, i) usa canais insuficientes (via porta-voz, “lives” via internet e redes sociais), deixando de atingir boa parte da população. Também ii) fala ou atua, partindo de premissas equivocadas, carregando nas costas, inconscientemente, responsabilidades políticas que não são exclusivamente suas. Não à toa recebe a pecha de bagunçado, perdido, desarticulado e similares (p.ex., pressupõe que somos Democracia; que para governar e aprovar medidas, precisa “convencer” Deputados, Senadores, imprensa etc). Ainda: iii) culpa a velha política pelos entraves políticos com os quais esbarra, mas presumidamente não tem planejamento estratégico para exercer a nova política que teoricamente patrocina e certamente fundamentou o discurso que elegeu o Bolsonaro.
Dou um exemplo claro de prática de velha política, feita por inconsciência – apostaria – de um Senador, indiscutivelmente eleito por ser ferrenho defensor da nova política. Senador que, inclusive, recebeu o meu voto. Não o condeno; está em fase de amadurecimento e aprendizado, assim como todo ser humano, mesmo que ignore isso. Flávio Bolsonaro não assinou o requerimento para abertura da CPI da Lava-Toga. Por quê? Apostaria num único motivo: sustentar uma “governabilidade” do estilo da velha política, mantendo um “bom relacionamento” ou uma “imagem de bom moço inocente” junto aos “notáveis” supremos.
É o ranço da velha política – implicitamente e certamente a contragosto – enrustido num jovem Senador, com inconteste intenção e vontade de ajudar o Governo Federal a dar certo (por razões óbvias), sob o manto da nova política que igualmente defende, mas não percebe como exercê-la no próprio âmbito de suas atribuições de Senador. O seu silêncio opcional durante esses quase três primeiros meses de governo implica, ao meu sentir, em uma sensação eloquente de angústia de sua parte.
Especificamente: por que digo que o Flávio fez o jogo da velha política, ao se recusar a assinar a imprescindível CPI voltada a descortinar a caixa-preta suprema? Nitidamente, porque atropelou a sua consciência, a qual – presumo – o mandava assiná-la; e, ao omitir-se, agrediu a autenticidade natural que o caracteriza como membro da família Bolsonaro. Tudo em prol de uma harmonia hipócrita e, de fato, inexistente, entre Poderes da República, que traduzo na “governabilidade” atinente à velha política.
Em suma, Executivo com 100% das responsabilidades de mudanças no lombo, porque não cumpre o seu papel comunicativo a contento; Congresso Nacional passivo, desconexo da realidade, aguardando “sinalizações” e propostas de namoro governamental para “ser convencido” (como se fosse possível uma pessoa convencer outra; só existe o autoconvencimento); e STF, ao final, ratificando a sua ditadura implacável, homologando ou censurando arbitrária e impunemente os atos do Governo e do Parlamento, invada ou não a competência de quaisquer desses Poderes.
Essa é a “governabilidade” imposta pela velha política que, sem saber, o Flávio Bolsonaro avalizou. As maiores vítimas: a coitada da Constituição, que, cega, surda e muda, é estuprada reiteradamente pelo velho “direito”, comandado pelo “guardião” constitucional; e a população brasileira, que absorve os efeitos das irresponsabilidades políticas e jurídicas de ambos os velhos. Até quando? Aguardemos os desígnios do Cosmo.