Era uma vez… um caso real, ainda pendente de desfecho (feliz ou trágico). Mas que bem ilustra
o que está invisivelmente por trás de uma empresa com sucesso consistente e de longo prazo, ou de uma que cresce rapidamente, mas não consegue sustentar o sucesso repentino, e entra em derrocada, mesmo que previsível e evitável: valores.
Parte 1. Empresa prestadora de serviços: ofertas de palestras, cursos e treinamentos diferenciados, nos quais são abordados assuntos fundamentais ao desenvolvimento de qualquer ser humano que acredite que viver tem algum sentido significativo. Porque adquirir esta crença, sim, é pressuposto inafastável para que alguém se disponha a sair da zona de conforto em que se encontra, assumindo novos desafios e fazendo o que for necessário para conquistar uma vida próspera, deixando as angústias, frustrações e sofrimentos enterrados no passado.
Educação e inteligência financeira; inteligência emocional, leis universais e quebra de crenças limitantes e infundadas, incutidas em nossa cabeça desde o nascimento por familiares, escolas e relações sociais diversas; empreendedorismo; marketing digital; comunicação; formação de professores e líderes; e o que mais se mostrar essencial à formação de um homem íntegro e bem-sucedido. Empresa com visão atualíssima, sempre aberta a novas parcerias voltadas ao verdadeiro ensino de qualidade.
Pela inovação do conteúdo oferecido, a missão da empresa não poderia ser outra: “revolucionar a educação brasileira”. Lema ousado, louvável, extremamente corajoso e alinhado às necessidades do ser humano em geral. Em especial, do brasileiro, esteja ou não consciente delas. Missão, a propósito, da qual tomei conhecimento por declaração expressa em público pelo seu próprio dono, durante treinamentos que venho fazendo há dois anos.
Proprietário que conheço pessoalmente. História pessoal bonita. Família linda, educada, bem estruturada. Quebrado financeiramente no passado, as “coincidências” da vida conspiraram a seu favor, premiando o seu esforço: após brilhante insight, aproveitando uma oportunidade que surgira, abriu no Brasil uma franquia da maior empresa de seminários e treinamentos do mundo, pela qual nos disponibiliza o acesso aos ensinamentos de grandes empresários e líderes com notoriedade mundial; sobretudo, norte-americanos.
Testemunho não apenas a qualidade do conteúdo que recebi dos mestres que vieram nos ensinar e levar à autorreflexão, mas, com igual ou maior relevância, ressalto as chances ímpares que tive de firmar novas e excelentes amizades, as quais cultivo prazerosamente desde então. Dentre os novos amigos, destaco aqui – especificamente pela pertinência com o caso que narro – uma sensacional professora de inglês: líder inata, comunicação cativante, energia contagiante, empatia e carisma.
Minha nova amiga, já frequentando os cursos da empresa há aproximados três anos, e confiando na missão declarada e, sobretudo, na respeitabilidade de seu dono, meses atrás teve uma forte intuição. Percebera que 95% ou mais dos participantes dos eventos, por não serem fluentes em inglês, usavam fones para tradução simultânea.
“Por que não lhe apresentar a possibilidade de criarmos um programa de treinamento em inglês por imersão, em parceria, tendo como diferencial das demais existentes no mercado a metodologia e o sistema de imersão que executo há anos em minha escola particular, com bastante êxito?” Foi a grande ideia de minha amiga. Professora e estudiosa do idioma há 30 anos, como dona de escola própria que adota o regime de imersão e a metodologia inovadora há mais de 10 anos, tomou a iniciativa de procurar o empresário. Testado o método por funcionários da empresa “zerados” na língua, sociedade firmada. Na palavra, ao menos.
Parte 2. Nome do curso de inglês criado pela empresa; programa de ensino desenhado por minha amiga. Marketing de venda e vendas propriamente feitos nos intervalos dos cursos dados pelos americanos. Em 20 minutos, o dono da empresa, muito empolgado e com nítida sinceridade, contava com se dera a parceria e vibrava ao descrever os ganhos no idioma obtidos por funcionários testados, louvando sempre a minha amiga; o diretor da empresa reforçava a qualidade do revolucionário curso e deixava no ar que o investimento era irrecusável, passando, então, elogiosamente, a palavra à minha amiga.
Esta, com seu brilho natural, demonstrava sucintamente, e com práticas breves, algumas das técnicas com os interessados presentes. Ao fim, com a sua empatia, tirava todas as dúvidas e sacramentava as vendas. Dentre as quais, a minha. Novamente, meu testemunho pessoal.
Parte 3. Vendas acontecendo; aulas sendo dadas por minha amiga e sua equipe treinada. Elogios e satisfação dos alunos. Dentre estes, incluo-me. Mas surpresas podem ocorrer a todos nós. Positivas ou negativas. Infelizmente, fui surpreendido por uma extremamente negativa.
No dia 17/01/2019, já com tudo preparado para viajar a São Paulo e cursar as minhas segundas 20 horas de imersão no inglês, uma voz interior buzina no meu ouvido: “Renato, pergunte à sua amiga se está tudo certo para as aulas do fim de semana.” Liguei para ela e, estranha e imediatamente, senti o seu estado emocional abalado: ela fora indiretamente coagida a desistir da sociedade com a empresa que se arroga a pretensão de “revolucionar a educação no país”. Razão? Incompatibilidade de valores morais delas com os da empresa, do seu dono, do diretor; desrespeito à sua dignidade e aos seus sentimentos.
Por interesse pessoal, fui mais a fundo para entender o que houve de errado na potencialmente exitosa parceria. Sintetizo o cerne da ruptura em apenas dois motivos, por serem os mais “impactorrepugnantes”.
Primeiro motivo. Proposta apresentada por ela de divisão dos lucros meio a meio (50%-50%) não-respondida, mas, sim, metaforicamente “cozinhada em banho-maria”, até o momento em que, inesperadamente, fora colocada contra a parede pelo seu “ex-futuro” sócio no curso, mais ou menos nos seguintes termos: “Ou você aceita ficar com 10% e fica milionária; ou continuará sendo uma simples professora-treinadora”.
Comento? Nem precisaria, porque, independentemente de cultura ou grau de instrução de cada um, a sensação de repugnância gerada em pessoas íntegras, que se imaginarem escutando isso de alguém em quem confiava cegamente, fala por si. Mas tenho minha leitura personalizada. Traduzo-a para você, querido leitor, querida leitora.
A empresa é original, tanto pelos treinamentos, seminários e palestras que vem trazendo para o Brasil há quatro anos, quanto pela missão que estabelecera como razão de existir (“revolucionar a educação no país”). Certamente, ganhou muita credibilidade pelos contratos fechados com os experts norte-americanos, cujos ensinamentos abrangem, de modo integrado, conhecimentos técnicos, empíricos (extraídos de décadas de experiências e que não estão nos livros) e desenvolvimento pessoal, com enfoque sistematizado nos aspectos emocional, psicológico e espiritualista, inerentes a qualquer indivíduo.
Fácil para mim ter dito claramente para minha amiga: “Você não errou em nada; apenas seguiu o seu coração. Agiu como qualquer pessoa íntegra, de boa-fé e empreendedora agiria, ao ter confiado na verdade da missão e na palavra de seu dono. Não à toa, você comprou a ideia de ‘empresa-padrão, que surgira para revolucionar a educação no Brasil’, vendida por eles abertamente, aproveitando-se da credibilidade inquestionável dos americanos.”
Exemplo clássico de cidadão que presumidamente teve boa formação familiar e prosperou financeiramente na vida de modo honesto, mas que, quando colocado verdadeiramente à prova pelo Universo, sucumbira à tentação, demonstrando que sua hierarquia pessoal de valores foi e está corrompida: dinheiro [da empresa, dele, do diretor] sobrepondo-se ao respeito ao próximo [à minha amiga]; ganância [dele, como ser humano, no papel de empresário milionário; do diretor que planeja e o persuade] atropelando a integridade [inexistente em ambos, mas da índole de minha amiga].
Outra constatação que faço, decorrente de um aprendizado valiosíssimo que extraí dos ensinamentos de minha inestimável terapeuta, amiga e mentora: “Renato, a segurança que você busca na vida é 95% advinda de conexão com a espiritualidade (segurança espiritual), ou seja, do respeito que temos pelas infalíveis Leis do Universo (ou por Deus, para os que preferirem) e sua vivência no cotidiano. Os 5% restantes são efeitos decorrentes desta conexão, os quais correspondem à tão perseguida segurança material, grosso modo, sinônima de dinheiro”.
Ou, ainda, nas palavras do falecido e brilhante Professor Hermógenes, “entregue (suas ações, seus comportamentos e atitudes ao Universo), confie (na sabedoria das Leis), aceite (o resultado que chegar para você, pois colhemos o que semeamos), agradeça (pelo resultado; se não foi o esperado, agradeça pela possibilidade de aprender com ele e faça diferente).”
“Renato, você está viajando; que besteirol é esse? É crença de fanático!” Você, leitor, leitora, pode estar pensando assim. Da mesma forma, o dono da empresa e seu diretor. Sem problema algum: a natureza metafísica só é compreendida quando vivenciada; jamais, entendida racionalmente, como dizia o Professor Huberto Rohden. O fato é: um projeto de curso de inglês inovador que tinha tudo para ser milionário agoniza, e Steve Jobs, bilionário, morreu de câncer no pâncreas. Alguma lição em comum?
Segundo motivo. Minha amiga, depois de 100 horas de treinamento trabalhadas, sequer viu a cor do dinheiro! Em torno de 80 alunos compraram o curso, ao preço médio de 6 mil reais. Penso, sim, que este motivo dispensa comentário. Mas levanto a bola para você: minha amiga efetivamente foi vista pela empresa como uma potencial sócia, competente e leal? Ou como uma empregada escrava, que poderia ser enganada e explorada em sua vocação ad eternum, via racionalizações e condutas procrastinatórias capazes de mantê-la na ilusão, pela alimentação constante do seu ideal virtuoso de expandir o ensino da língua inglesa nacionalmente?
Parte 4. Voltando à minha pessoa. O que fiz, como comprador do curso de inglês – que, num linguajar jurídico, qualificaria como natimorto? Rescindi unilateralmente o contrato. Motivação similar à de minha amiga: incompatibilidade de valores morais. Pois estaria eu violando a minha essência, caso continuasse a dar crédito a esse curso com a minha presença, prestigiando a empresa que o patrocina, mesmo sabendo o que os seus responsáveis fizeram com minha amiga.
Deslealdade e covardia, inconcebíveis no meu cardápio de valores! Apenas uma justificativa poderia me fazer continuar no curso, que ora respira por aparelhos: uma recaída de caráter (“Já paguei; não vou perder meu dinheiro.”). Felizmente, impossível; valores pessoais mais do que cristalizados! Entre o apego ao dinheiro devido à ganância ou ao receio de perder o investimento feito, e a lealdade, a solidariedade e a compaixão para com minha querida amiga…
Parte 5. Curiosidade jurídica. “Renato, o que você fará para recuperar o dinheiro pago pelo curso que se transformou, imprevisivelmente, de ‘lebre em gato’?” Digo: polidamente, como gosto de fazer sempre, enviei à empresa um e-mail, com bastante zelo, pontuando fatos, justificando-os e pedindo a compensação futura do meu saldo credor. Numa primeira resposta, a empresa lamentavelmente subestimou-me. Preferiu encaminhar-me um texto padronizado, genérico, retórico, completamente omisso na abordagem de minhas colocações e do meu pedido. Naturalmente, insatisfeito com a atenção que me foi dispensada, escrevi-lhe uma tréplica, solicitando educadamente ao responsável que viesse para o mundo real e respondesse objetivamente o meu texto desprezado. Aguardo ainda a solução consensual.
Parte final. “Renato, por que consensual, e não, judicial?” Porque acredito firmemente que todos temos o direito de errar e, enquanto estivermos vivos, também a oportunidade de nos autocorrigirmos. Até aqueles que deixaram o dinheiro anular o discernimento e evidenciaram uma fragilidade no respectivo caráter, face à descrença na espiritualidade ou à percepção exclusivamente materialista da vida!
Mas de duas coisas ninguém pode se esquivar: i) da dor, derivada do erro, como mensagem sutil do Universo, avisando que o caminho é n’outra direção; e ii) do sofrimento, quando os sinais emitidos pela dor são ignorados e os erros se consolidam em hábitos nocivos.
Em se tratando de empresários gananciosos, nada pior do que o sofrimento emergente da perda crescente e incontornável da credibilidade da sua empresa e da ainda mais desesperadora perda da sua própria credibilidade – personalíssima e insubstituível – perante o seu público mais fiel! O poder de arrasto tende a ser cruel. Intuitivamente, aposto no “despertar de uma nova consciência” (título do excelente livro de Eckhart Tolle) e no consenso com bom senso.