Falsos cristãos e suas espirais do silêncio: joios “espirituais” que também serão varridos.

Renato R Gomes Administrador

Volta e meia, tenho tocado em assuntos de

cunho espiritual, em razão do momento atual. Ataques à família, à liberdade de crenças, à liberdade de expressão, à saúde e à vida, como nunca vivenciamos antes.
Compreensível que haja milhões de pessoas descrentes, desesperançosas, angustiadas, a procura de alguma espécie de “tábua de salvação” milagrosa em que possam se segurar.

Natural que, vez em quando, espontaneamente, num papo ou outro, numa análise ou outra, sem nada premeditado, acabe opinando sobre o modo como vejo as coisas sob o enfoque holístico ou espiritual da vida, do Mundo, do Universo. Daí, volta e meia, como é de potencialmente se esperar de um ambiente social espiritualmente intoxicado ou corrompido, previsível que apareça um “emissário” do “divino”, arrogando-se o “direito” de me puxar as orelhas e me mandar estudar o que não sei e, não bastasse, ainda me tachando de “soberbo”.

Por exercício constante de inteligência emocional e espiritual, bem como consciente da necessidade de autocontrole do ego, não discuto com “surdos” e muito menos com “representantes” de “Deus” aqui na Terra. Contudo, pela pertinência da ocasião, tenho decidido expor minhas percepções em público para deixar claro certos pontos de vista. Faço isso por mero cumprimento de dever de consciência, visando a amenizar ou eliminar “ruídos” ou influências prejudiciais à formação de uma massa crítica consciente. É o mínimo, em consideração aos que escutam e leem as mensagens que venho passando.

Asseguro, com a máxima veracidade de intenções: absolutamente nada é pessoal. Respeito todas as crenças e as pessoas de bem. Porém, não aceito argumentos ad hominem, levianos, de conteúdo genérico, usados – via de regra como espirais de silêncio – por “arautos” do “saber” espiritual, tentando intimidar os que ousam contestar seus dogmas humanos, egocêntricos e “infalíveis”.

Orgulhos feridos ou vaidades arranhadas, não é de surpreender que me venham indagações implicitamente acusatórias e de índole vitimista, tal como fazem os tipos esquerdopatas: “O que você tem contra os ‘cristãos’?” Ou seja: um inconformismo pessoal de alguém intolerante – que se autoproclama “cristão” – com concepções divergentes sobre coisas do espírito transforma-se em preconceito generalizado contra todos os cristãos. Desonestidade intelectual, intolerância, arrogância e descontrole emocional, motivando atitudes anticrísticas, por parte de quem deveria, na verdade, denotar a cristandade em ações.

Fato: admiro os cristãos legítimos, facilmente identificáveis pelas manifestações de pensamentos, atitudes, comportamentos. Abomino preconceitos e discriminações espiritualmente infundados. Sem falar que meus amigos leais – a propósito, um pleonasmo – são cristãos e, também, por me considerar seguidor dos ensinamentos do Cristo. Na verdade, não tenho nada contra ninguém. Cada um é responsável por seus atos, plantando a própria colheita.

Agora, coloquemos os “pingos nos is”: carregar uma escritura na memória ou debaixo do braço, e ficar colocando o dedo na cara dos outros que pensam diferente, pode caracterizar qualquer coisa, menos um cristão verdadeiro. Ser cristão não é seguir o cristianismo; é ter atitudes de cristão. Gandhi seguia os ensinamentos de Jesus, mas rejeitava o cristianismo. Será que está no “inferno”?

Um ateu que segue a Regra de Ouro vai para o “Céu” ou “Inferno”? Um evangélico, por ser evangélico, vai para o “Céu” ou “Inferno”? Um católico fundamentalista vai para o “Céu” ou “Inferno”? Um papa progressista vai para o “Céu” ou “Inferno”? Um espírita tipo João de “Deus” vai para o “Céu” ou “Inferno”? Quem desacredita no “Deus” do porrete vai para o “Céu” ou “Inferno”? Divaldo Franco e Dalai-lama vão para o “Céu” ou “Inferno”? O sinhozinho analfabeto, grato e caridoso, do interiorzão do Brasil, vai para o “Céu” ou “Inferno”? Moral (e intuitivo): pouco importam formas ou rótulos; vale, sim, o núcleo. Se este estiver podre, irrelevante a fachada religiosa, espiritual ou moralista.

A ignorância espiritual de muitos pseudocristãos, que se acham seres moralmente superiores, mas que não passam de reféns dos próprios egos e de suas inconsciências, explica –  jamais justifica – o porquê de o cristianismo estar sendo constantemente atacado. Apesar dos pesares, sempre há um alento: a receita para o autodespertar e a saída da obscuridade está no próprio teor das escrituras, tão proclamadas somente da boca para fora: vigiai e orai; cuidar da trave nos próprios olhos, ao invés do cisco nos olhos dos outros. Em essência, fazermos ao próximo o que gostaríamos que fizesse por nós, e não fazermos o que não queremos que nos faça. É difícil aceitarmos o óbvio? Apenas para autorreflexão.

“Para onde devo olhar à procura do bem e do mal? Não para as coisas externas incontroláveis, mas dentro de mim, para as escolhas que são minhas.” Epicteto